Glória Pires e Mariana Ximenes elogiam a complexidade dos vilões Eles são muitos e de todos os tipos: Felipe Barreto, de “O dono do mundo”. Perpétua, de “Tieta”. Nazaré, de “Senhora do destino”...


Glória MariaRio de Janeiro
Quem vê hoje o balé de técnicos e artistas nos sets de gravação, e também nos bastidores, não tem ideia de como era difícil fazer novela nos anos 1950 e 1960.
“Eu fazia TV ao vivo”, diz Francisco Cuoco. “Se chovesse muito, a água invadia o estúdio e nós acabávamos representando em cima da cama ou do sofá com medo de choque por causa do cabeamento no chão.”
“Havia umas câmeras enormes que rodavam para mudar de lente”, ri Regina Duarte.
“Não tinha ar condicionado no estúdio. Então elas não podiam esquentar. De vez em quando, você via um câmera dando um tapa na câmera para ela voltar ao normal”, brinca Tony Ramos.
“Era muito legal e a gente ensaiava às vezes o bloco inteiro, e vinha gravando de cenário em cenário”, acrescenta Regina Duarte.
Antigamente, uma novela inteira podia ser gravada em até três estúdios. Eram poucos atores, poucos cenários, mas o tempo foi passando e as produções se multiplicaram. Gravar em um estúdio só ficou muito limitado. Foi aí que surgiram as cidades cenográficas. Autores e diretores puderam viajar muito mais pelo mundo da imaginação.
Passear pela cidade cenográfica de “A vida da gente”, ambientada no Rio Grande do Sul, é como estar em um pedacinho da cidade de Gramado. Ou em alguns quarteirões da capital gaúcha, Porto Alegre. Até a Avenida Coronel Lucas de Oliveira é reproduzida.
Gilson Santos é um dos cenógrafos da novela. Com a sinopse na mão, o resumo da novela, ele e uma equipe viajaram para o Sul para trazer as principais características locais. Gilson conta que a equipe, na reprodução cenográfica de uma livraria, por exemplo, acrescenta detalhes que não existem na versão real.
Para deixar tudo explicadinho: é como se o cenógrafo fosse o arquiteto. E a produção de arte, o decorador da cidade cenográfica.
“Leva uns seis meses para a cidade cenográfica ficar de pé”, diz Gilson.
“A gente usa muita coisa real e muita coisa cenográfica”, conta o cenógrafo Tadeu Catharino.
A novela “Irmãos coragem”, de Janete Clair, foi a primeira a contar com uma cidade cenográfica: a fictícia Coroado, tiranizada por um coronel poderoso que comprava votos e corrompia a polícia. O rumo da trama começou a mudar quando João Coragem encontrou um enorme diamante.
A luta pela posse da pedra transformou “Irmãos coragem” em um grande faroeste moderno, o que atraiu o público masculino para a novela - algo incomum até então.
Tarcísio Meira e Glória Menezes viviam o grande par romântico da história. Casados na vida real, contracenaram muitas vezes. Em 1983, Tarcísio Meira viveu um dos seus primeiros papéis cômicos: o impagável Felipe, de “Guerra dos sexos”, que também eternizou um combate hilário entre dois grandes atores: Fernanda Montenegro e Paulo Autran.
Foi usando o humor que o autor Cassiano Gabus Mendes criou “Que rei sou eu”. A história se passava em Avilan, um país europeu imaginário do século 18. Mas a intenção era retratar o Brasil tumultuado do fim dos anos 1980.
Listar os vilões das telenovelas é tarefa árdua. São muitos e de todos os tipos. Vamos lembrar alguns? Felipe Barreto, de “O dono do mundo”. Perpétua, de “Tieta”. Nazaré, de “Senhora do destino”. Cândido Alegria, de “Pedra sobre pedra”. Flora, de “A favorita”.
A atriz Mariana Ximenes teve sorte, apesar de todas as maldades da Clara, de “Passione”. “Muita gente chegava para mim e falava: ‘Olha, não maltrata o Totó. Você é má, hein’. Mas sempre em um tom de brincadeira. Eu não fui agredida fisicamente, como já aconteceu com alguns atores”, diz a atriz.
Ela estreou na Globo vivendo uma noviça. Já fez uma funkeira e a grande maioria das personagens era do bem.
“Mocinha também não é fácil de fazer. Tem que tomar cuidado para não ficar chata. Tem que descobrir o brilho da mocinha. A vilã já tem essa riqueza de sentimentos dentro dela. A Clara ainda era uma mocinha dentro da vilã.”
Em “Vale tudo”, o que não faltava era vilã. “Maria de Fátima foi um personagem muito completo”, define Glória Pires. Uma grande aprendiz de Odete Roitman, interpretada por Beatriz Segall.
“Eu gosto de tudo, gosto de todos os personagens. Eu acho que a Raquel era um personagem super bem escrito, acho que a Regina fazia lindamente. E o barato daquela relação era justamente o contraponto: a mãe que era toda cheia de virtudes, cheia de moral, e uma filha amoral”, lembra Glória Pires.
Glória Pires começou ainda menina na novela “Selva de pedra”, e ela teve muito medo. “Nossa, eu tremia tanto! Eu tinha que dançar. Eu não acertei um passo da coreografia que eu tinha ensaiado milhões de vezes. Me deu um bloqueio total, um pânico”, revela.
A novela foi mesmo uma grande escola para muitos atores. “Eu comecei verde na ‘Malhação’ e fui amadurecendo na frente do público”, diz Cauã Reymond. “Eu aprendo muito vendo os outros atores mais velhos e mais experientes trabalhando. Eu presto atenção em como eles decoram texto, na inflexão que eles vão dar para uma fala. Quando você vai contracenar com uma Fernanda Montenegro, ela não espera um fã, ela espera uma pessoa que dê base para fazer bem o trabalho dela como ela sempre faz.”

Nenhum comentário:

Se gostou, compartilhe... :-)

Seguidores

Minha lista de blogs