Grandes redes chegaram ao estado e comércio de rua teme disputa.
Se de um lado o novo empreendimento já revoluciona os hábitos da população local, que experimenta facilidades e ofertas de grandes varejistas que chegaram junto com o centro de compras, o comércio tradicional de rua também se movimenta para brigar com a nova concorrência e manter clientela.
“Os preços estão bons no shopping. Mas tem coisa que no centro é bem mais barato”, opina a técnica de enfermagem Ângela Gonçalves, de 42 anos. Para seu marido, Ednei Cavalcanti da Silva, de 34 anos, que visitou o centro de compras pela primeira vez na quinta-feira (8), os eletrodomésticos estavam mais baratos. “A facilidade de atendimento no shopping é bem melhor. Você não fica em fila esperando, é rápido. No centro é mais demorado”, sugere.
Com investimento de R$ 75 milhões, o Via Verde Shopping virou o novo xodó do Acre – somado ao valor aplicado pelos lojistas, o investimento no empreendimento chega a aproximadamente R$ 140 milhões. É considerado pelo governo o maior empreendimento privado do estado. Pela associação comercial local, um marco histórico. E para os consumidores, comodidade, segurança e entretenimento.
Entre as últimas capitais
Somando quase 340 mil habitantes, a capital do Acre foi uma das últimas do país a receber um shopping center – ficando atrás apenas de Macapá, cuja previsão é de inaugurar o primeiro centro de compras em 2012, e Boa Vista, que também ainda não possui shopping, de acordo com dados da Associação Brasileira de Shoppings Centers (Abrasce).
Somando quase 340 mil habitantes, a capital do Acre foi uma das últimas do país a receber um shopping center – ficando atrás apenas de Macapá, cuja previsão é de inaugurar o primeiro centro de compras em 2012, e Boa Vista, que também ainda não possui shopping, de acordo com dados da Associação Brasileira de Shoppings Centers (Abrasce).
Grandes redes varejistas que ainda não estavam presentes no estado, como Renner, Riachuelo e Americanas e Centauro, inauguraram suas primeiras lojas em solo acriano otimistas. Franquias como Carmen Steffens e Morana, além de várias do setor de alimentação, também apostaram. As marcas citam o crescimento econômico e populacional de Rio Branco para a aposta, além da ampliação da participação no Norte brasileiro.
(Observação: "acriano" é com "I", de acordo com o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. Com relação ao fato apontado por leitores da existência de um shopping em Rio Branco anterior ao Via Verde, a Abrasce diz não ter registro. Segundo a entidade, para ser classificado como shopping, o empreendimento tem de ter ao menos cerca de 5 mil metros quadrados de área bruta locável, entre outros critérios.)
“As grandes redes são as maiores ameaças ao comércio de rua (...) Hoje o conceito de qualidade mudou muito para o consumidor. Antes era durabilidade. Hoje é a moda que está associada à qualidade e, pelo porte, as grandes redes conseguem estabelecer preços com pouca diferença”, diz Luis Marinho, professor do núcleo de varejo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e especialista em marketing voltado para shoppings.Dorival Regini, presidente da Landis Shopping Centers, empreendedora, administradora e comercializadora do centro de compras, cita a importância das grandes lojas no empreendimento. “Elas atraem o público e fazem as pessoas comprarem nas lojas menores”, diz. Ao todo, são cerca de 150 lojas, 8 âncoras (justamente essas principais lojas do shopping) e 4 megalojas – o investimento total dos lojistas girou em torno de outros R$ 65 milhões a R$ 70 milhões, estima Regini.
A funcionária pública Graça Rodrigues, de 53 anos, afirmou que poderá ser vantajoso fazer as compras nas grandes redes por conta da facilidade de pagamento. “Penso que vou comprar mais no shopping por que dá para parcelar em até cinco vezes sem juros.”
Lojas de ruaA chegada dos novos – e grandes – concorrentes, já fez os lojistas de rua reavaliarem as estratégias para manter as vendas neste final de ano. É o caso de Iris Tavares, 50 anos, proprietária de duas lojas de roupas de marcas conhecidas no centro da cidade, uma de moda feminina e outra masculina. Ela é comerciante em Rio Branco há 30 anos e diz estar preocupada como a nova concorrência.
“Acho que a chegada do shopping pode atrapalhar as vendas. É uma novidade e vai acabar mexendo um pouco com o consumidor (...). Acredito que no mês de dezembro o shopping vai chamar bastante gente para lá. (...) Quem vai vender bastante acho que serão as âncoras, que estão tirando do meu cliente. Ele pode não comprar roupas, mas sim outras coisas que ele nem precisava, naquela compra de impulso”, avalia.
Como estratégia, a comerciante está ampliando o leque de produtos da loja. “Eu criei um cantinho com objetos de decoração e também estou entrando com o [segmento] infantil para a cliente ter mais opção”.
A lojista afirma que não teve interesse em ir para o shopping por conta do alto investimento, uma vez que, para seu modelo de negócio, teria que abrir uma loja muito grande. Iris afirma, porém, que a expectativa para este ano é ficar estável em relação às vendas do Natal de 2010. “Para bater o ano passado vamos ter que suar. Ficando igual já está bom”, diz.
Para a gerente de uma loja de roupas no centro da cidade, Marta da Silva, o que mais preocupa são as facilidades de pagamento oferecidas pelas varejistas do shopping.
"Lá eles têm facilidade de pagamento. Aqui ou é a vista ou é no cartão. Lá eles estão oferecendo para pagar a primeira parcela só em março", afirma. Com isso, segundo ela, os clientes preferem deixar pagar depois e usar o dinheiro que tem agora para as festas de final de ano. "Ele compra e não quer nem saber qual é o dia que vai pagar", diz. Segundo Marta, contudo, o movimento na loja não foi muito afetado pelo shopping. "Talvez seja por ser festa de final de ano", diz.
Para ela, uma questão que pode afastar os clientes é o fato de o shopping ter passado a cobrar estacionamento. "Tem muita gente reclamando"
Dona de uma loja de roupas para gestantes e crianças há pouco mais de um ano no bairro Cerâmica, próximo ao centro, Carolina Cordeiro, também não vai ficar parada e elaborou campanhas para o Natal. “Vamos distribuir cupcakes [minibolos] para os clientes. Pensamos em uma campanha com brindes”, afirma a comerciante, que também revelou que pretende focar na qualidade do atendimento para manter o público.
Carolina afirmou, contudo, que sentiu uma pequena redução no movimento após a abertura do shopping. “Eu penso que, a princípio, todo o comércio de rua vai sentir bastante. É novidade, todo mundo vai querer conhecer o shopping. É necessário fazer divulgação e lembrar aos clientes que a gente está aqui. Com o tempo, vai se acalmando e as pessoas vão às lojas que preferem”, avalia a empresária.
A estimativa de retorno do investimento da administradora do shopping é de oito a dez anos. Regini diz estar otimista com a empreitada - só na data da inauguração, cerca de 40 mil pessoas compareceram para conhecer o empreendimento, número que corresponde a cerca de 12% da população de Rio Branco.
Para o especialista Marinho, contudo, apesar de todas as novidades que o shopping oferece, não é de uma hora para outra que a população muda seu local de compras. “O consumidor tem hábitos desenvolvidos há anos. Ele compra marcas que está habituado, é atraído por determinas pessoas que já está acostumado”, afirma.
A empresária Taiana Arruda Dias, de 29 anos, há espaço para os dois mercados. Ela abriu uma joalheria no shopping, mas a família já atua com o comércio há cerca de 30 anos no centro da cidade. “Lá, como é central, tem as compras populares”, diz. “A gente espera que a população de adapte a um shopping (...). Tem espaço para todos”, afirmou, lembrando que a loja tem um público fiel.
Para Wilker Lene Dantas, de 35 anos, que possui um estúdio de tatuagem em uma galeria no centro, o movimento caiu bastante no local depois que abriu o shopping. “O fluxo de pessoas diminui bastante”, afirmou. Ela revelou, contudo, acreditar que não sofrerá muito impacto em seu negócio, uma vez que não há concorrente no shopping.
BolíviaO shopping, contudo, poderá não conseguir brigar com um outro forte concorrente do estado, o país vizinho. Com preços atrativos, muitos acrianos viajam para a Bolívia para comprar eletrodomésticos e eletrônicos a melhores preços.
Para João Fecury, superintendente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e presidente da associação comercial do estado, o comércio local perde com a concorrência. “Temos dificuldade de dividir os consumidores com zona franca da Bolívia, a cerca de 200 km. Eles têm um comércio vigoroso de produtos importados, mas existe limite para o consumidor trazer”, diz.
Para a associação, contudo, a presença do shopping não vai inibir a ida do consumidor ao país vizinho.
PesquisaUm sinal de que o shopping pode não ser um inimigo tão grande assim é o resultado de uma pesquisa feita para medir a percepção dos comerciantes da cidade com o novo empreendimento. A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Acre (Fecomercio-AC) ouviu, de 17 a 21 de outubro, 185 empresários do segmento – sendo que 88% não estão instalados no shopping.
O resultado surpreendeu os pesquisadores: 69% daqueles que não têm loja no centro de compra se mostram otimistas com a chegada do novo concorrente, sendo que 39% acreditam que a novidade deve estimular o desempenho do comércio tradicional, 15% acreditam que vai servir para atrair mais consumidores para o mercado local e outros 15% afirmam que a instalação de um Shopping Center, não prejudicará a atividade econômica em funcionamento.
“O comércio de rua acredita que é uma novidade que vai trazer muitas pessoas ao entorno. Pessoas de cidades próximas vão ser estimuladas a vir [para Rio Branco] e esses consumidores também migram para o comércio de rua (...). Essas coisas faz com que todo mundo saia beneficiado. Para muita gente do interior o comércio de rua também é novidade”, explicou o economista Roberval Ramirez, responsável pela pesquisa.
Ainda de acordo com a pesquisa, 58% dos empresários acreditam que os consumidores ainda vão preferir o comércio de rua por conta dos preços menores. O economista da Fecomercio lembra que, para muitos consumidores, pode sair caro ter de pagar a tarifa de ônibus para ir e voltar do shopping. “Para ir lá e voltar já dá de mais de R$ 5,00. Com esse dinheiro já dá para comprar algo na loja do bairro”, diz.
O professor Marinho, da ESPM, lembra que as lojas de bairro tendem a praticar menores preços. “O custo de ocupação do shopping é maior do que o de rua (...). A tendência é que a loja de rua consiga praticar preços menores (...). No shopping, contudo, o consumidor percebe a diferença, com escada rolante, piso de gesso, a percepção do consumidor é que o local pratique preço mais alto”, diz o professor Marinho, da ESPM. Para o especialista, neste caso, cabe ao shopping mostrar que não é bem assim, estimular o mesmo preço para os lojistas.
Para Fecury, da associação comercial do estado, a chegada do shopping é positiva em todos os ângulos. “Gera concorrência entre o comércio mesmo. O centro da cidade e os centros comerciais dos bairros vão ter que reduzir custos, fazer reengenharia, nova ambientação. (...) A expectativa é que haja mercado para todos. Quem ganha é o consumidor”, sugere.
Nenhum comentário:
Postar um comentário