Sem opções para presentear, casal cria empresa de brinquedos científicos
Dupla buscava alternativas mais educativas para filhos.
Projeto fornece brinquedos que ensinam física e matemática.
A fórmula de comprar boneca para garotas e carrinhos para meninos pode parecer a escolha mais segura no Natal, mas o Brasil já tem opções para pais mais exigentes. Em Florianópolis, um desses casais criou a própria empresa de brinquedos científicos, após se cansar de buscar alternativas para os filhos.
“Nas lojas convencionais, era sempre a mesma coisa: 'Barbie' para meninas, 'Hot Wheels' para meninos”, disse Djali Valois, de 39 anos, que fundou o projeto Mentes Brilhantes com o marido em 2009.
A dupla só conseguiu ter em mãos os primeiros brinquedos após desistir da ideia de fabricá-los no Brasil. Após receberem um prêmio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) do Ministério da Ciência e Tecnologia, eles firmaram uma parceria com um fornecedor em Taiwan e receberam o material para venda apenas em dezembro de 2010.
Do Cern para a pedagogia
Outra que se encantou com os brinquedos da Mentes Brilhantes foi a física brasileira Rafaela Lamy-Peronnet, que hoje exerce o papel de consultora pedagógica na empresa.
Especializada em educação e divulgação de ciência, ela morou seis anos na Europa e chegou a trabalhar no Centro Europeu de Pesquisas Científicas (Cern) – responsável pelo maior “brinquedo” já criado por cientistas, o Grande Colisor de Hádrons (LHC).
De volta ao Brasil, ela ajuda professores e pais interessados a usarem os brinquedos na sala de aula ou em casa. “A gente definitivamente não quer nossos produtos largados em uma prateleira de supermercado”, afirma. “Nós queremos ir até as escolas, conhecer os pais, eles precisam se encantar com o brinquedo antes de ajudar os filhos.”
Ao criar o material pedagógico para crianças até a 8ª série, Rafaela sabe do potencial que um brinquedo pode ter para introduzir os jovens no mundo da ciência.
“Você não vai usar aquilo para ensinar ciência formal a elas, a ideia é que os meninos entendam relações de causa e efeito e possam saber como enfrentar um problema”, afirma.
Seja mostrando como a energia eólica funciona com pequenas pás em um moinho de brinquedo ou como a inversão de polos pode fazer um motor elétrico girar ao contrário, os brinquedos ajudam as crianças a escapar dos caminhos formais de aprendizado e a serem iniciadas em qualquer tema.
“Assuntos que fogem do nosso mundo sensível são mais difíceis de abordar”, explica Rafaela. “Como você vai manipular a eletricidade? Não dá para contar ou apontar um fóton, mas dá para mostrar que a célula fotovoltaica faz mexer um motorzinho.”
Para a educadora, apesar de reconhecer os limites da criança, o adulto deve sempre incentivá-la – até mesmo com questões tão difíceis quanto relatividade ou física quântica. “Sou sempre otimista sobre a capacidade das crianças em aprender”, diz a física. “A gente não tem direito de exigir, mas o dever de propor.”
Rafaela ainda cita o acesso fácil à internet como uma forma das próprias crianças forçarem que escolas desenvolvam novas táticas de aprendizado. “Se a gente fosse trazer alguém do século 19 para os tempos de hoje, essa pessoa não iria reconhecer nada. Tudo seria diferente: bancos, igrejas, cidades. Menos a escola, que segue igual”, diz. “A ciência não é mais a mesma do passado. Já que o colégio não se mexe, as crianças vão traçar esse caminho de descoberta sozinhas.”
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