Edson Viana vendeu até o RG pela droga; hoje ele busca se recuperar.
PM faz operação desde terça (3) para inibir tráfico e recuperar Cracolândia.
"De repente você está bem e, quando se dá conta, está dentro de um buraco fumando crack, todo sujo. Dá vergonha de si mesmo." Viciado na droga há dez anos, Edson Viana, de 34 anos, estava na Cracolândia na terça-feira (3), dia em que a Polícia Militar deu início à operação contra o tráfico no Centro de São Paulo. Ele se lembra de haver PMs por todos os lados e pequenos grupos de usuários procurando onde ficar, alguns fumando do mesmo jeito. "A polícia está fazendo o seu trabalho, mas na hora em que você está fumando crack, não está preocupado se é policial ou não que está presente."
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Vários dependentes procuraram abrigo na praça próximo ao Terminal Princesa Isabel, segundo Viana. Ele recorda de ter ido ao local e comprado três pedras de crack por R$ 50. Foi atacado e quase morreu. "Saí da praça e dois homens me seguiram, me pegaram pelo pescoço. Eles tomaram a droga e uma pasta com documentos que estava levando. Aqui [na Cracolândia] é a lei do cão", diz.
O dependente considera que a operação policial na Cracolândia é positiva, mas que falta tratamento para os viciados. "Nos empurram para lá e cá e isso não resolve. Tinha que haver mais lugares para tratar quem fuma crack. Quando está na droga, você se transforma, perde o domínio da própria vida", afirma.
As recaídas são frequentes, diz Viana, que relata estar sem a droga desde quarta-feira (4). "Fiquei três meses internado em uma clínica de recuperação em Penápolis, no passado. Pensei que estava pronto para enfrentar a sociedade de novo, mas não estava. Saí e fui parar na biqueira [boca de fumo] para comprar crack."
Viana está abrigado desde o dia 15 de dezembro em um albergue na região da Barra Funda, Zona Oeste da cidade. Ele, que vai fazer 35 anos em 10 de janeiro, espera uma vaga de atendimento psiquiátrico na unidade de Assistência Médica Ambulatorial (AMA) Boracéia. Quer se recuperar. "Ou você aceita o tratamento e entende que [o vício] é uma doença, ou você caminha para a morte", avalia.
Quando você está na droga, perde o domínio da própria vida
Edson Viana
Todo o dinheiro obtido com trabalho ia para o vício, afirma. Ele diz já ter roubado os próprios pais para comprar droga. Até documentos foram vendidos. "Eu vendi a minha carteira de identidade. Um sujeito na Cracolândia comprou por R$ 10 e eu fui fumar uma pedra [de crack]", recorda.
Casa à venda
Morador de Interlagos, na Zona Sul, durante toda a vida, Viana foi expulso de casa pela família devido ao vício. Ele afirma que o pai colocou o imóvel à venda e vai mudar para Minas Gerais por sua causa. "Maltratei meus pais, minhas irmãs, até o ferro de passar da minha mãe eu troquei por droga. Meu pai não aguentou mais. Eu me arrependo por isso."
Morador de Interlagos, na Zona Sul, durante toda a vida, Viana foi expulso de casa pela família devido ao vício. Ele afirma que o pai colocou o imóvel à venda e vai mudar para Minas Gerais por sua causa. "Maltratei meus pais, minhas irmãs, até o ferro de passar da minha mãe eu troquei por droga. Meu pai não aguentou mais. Eu me arrependo por isso."
Os dois filhos de Viana não conhecem o pai. Um deles mora no Espírito Santo e tem 17 anos. "Eu vi quando ele era bem pequeno", recorda. A filha, que tem 5 anos e mora em São Paulo, ele nunca encontrou.
Para Viana, o vício faz o dependente agir como um animal. "Eu não tenho carinho, afeto. Você [como usuário] perde todo mundo que importa, o seu pai, a sua mãe. Eu não conseguia dar bom dia ao meu pai. Eu decepcionei as únicas pessoas que acreditavam em mim", diz.
A Cracolândia sempre foi um local que atraiu e deu medo em Viana. "Da primeira vez que vim para cá, eu vi que em todo lugar você acha [crack]. Você fuma na rua, você fuma em hotel, você pode alugar um quarto e fumar tranquilo. Eu ficava na paranóia da mesma maneira, tinha alucinações", conta o viciado.
A droga no início deixa o usuário eufórico, segundo ele, mas depois de um tempo, no entanto, resta apenas a sensação de estar sendo perseguido. "Eu fumo o primeiro trago e vejo a polícia invadir, vejo pessoas atrás de mim, tenho alucinação. Não me dava prazer, era só isso. Só que eu tinha que usar sem parar. É difícil de explicar."
Três fases
A PM diz que a ação na Cracolândia é dividida em três fases. A primeira será de atuação da polícia contra o tráfico de drogas em conjunto com uma operação de zeladoria da Prefeitura em casarões e ruas.
A PM diz que a ação na Cracolândia é dividida em três fases. A primeira será de atuação da polícia contra o tráfico de drogas em conjunto com uma operação de zeladoria da Prefeitura em casarões e ruas.
A PM estima que dentro de 30 dias após a prisão de traficantes e o restabelecimento da ordem na região se inicie a segunda fase, com a participação de assistentes sociais e agentes de saúde, que farão o encaminhamento dos dependentes químicos para albergues, Assistência Médica Ambulatorial (Amas) e, se preciso, internação para tratamento e reinserção social.
A terceira e última fase - considerada a mais difícil - é a de manutenção deste cenário, para que os dependentes possam se recuperar plenamente. A intensificação da Ação Centro Legal, iniciada há dois anos e meio, começou a ser planejada entre outubro e novembro de 2011, através de reuniões da PM com o governador Geraldo Alckmin, secretários estaduais, municipais e o prefeito Gilberto Kassab.
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